Minority Report é um filme lançado em 2002, estrelado por Tom Cruise, com direção de Steven Spielberg. A história é baseada em um cenário futurístico, onde os homicídios foram eliminados no ano de 2054, na cidade de Washington.
No longa-metragem era utilizado o sistema pré-crime, que envolvia computadores de alta tecnologia, três gêmeos com habilidades psíquicas (precogs) e uma equipe de técnicos.
Os precogs previam crimes através de sonhos que eram interpretados pelo “chefe de pré-crime” John Anderton (Tom Cruise). As imagens eram captadas por um sistema e exibidas em monitores. Após o protagonista fazer a interpretação, mandados de busca e apreensão eram emitidos e suspeitos eram presos, mesmo que, na prática, não tivessem cometido nenhum crime.
O clímax do filme acontece quando os precogs enviam ao protagonista cenas da previsão de um assassinato, onde o próprio John Anderton é o assassino. A partir deste momento, John desconfia que alguém está manipulando o sistema e passa a não confiar mais nele.
Há um conflito permanente na trama: prever o futuro, significa mesmo que algo vai acontecer? Isso porque pessoas eram presas e condenadas por crimes que ainda não haviam ocorrido. Por outro lado, muitas vítimas estavam vivas, eram gratas ao sistema pré-crime.
Também surge uma dúvida durante o filme: devemos confiar cegamente nas previsões? Principalmente, quando John Anderton sente na pele os efeitos do sistema pré-crime e, sabendo que não era capaz de se envolver em um delito desses, começa a desconfiar do sistema e a investigar possíveis manipulações.
Fica uma pergunta: devemos confiar totalmente na tecnologia e outros meios para a realização de análises preditivas?
As ferramentas da estatística
A estatística em conjunto com a tecnologia nos fornece várias ferramentas, de modo que seja possível analisar fatos, probabilidades e assim interpretar as coisas do mundo. Eu já tratei muito desse assunto aqui no blog, principalmente ao falar sobre análises preditivas, tecnologias envolvidas e algoritmos.
O que ocorre é que, por mais que usemos os números e a ciência para buscar um entendimento de tudo, existem questões filosóficas e sociais que nos obrigam, às vezes, a “sair de trás das máquinas” para entender o mundo ao nosso redor. E sobre isso, podemos tirar algumas lições do filme, quando se trata de análises preditivas.
Lições sobre previsões
Lição 1 – A tecnologia pode fazer o bem para a humanidade se for combinada com outras ferramentas sociais.
Segundo Charles Wheelan, em seu livro “Estatística: O que é, para que serve, como funciona” (2016), a estatística diz o que é provável e o que não é. O autor também afirma que a estatística tem implicações sociais e sobre potenciais erros, ao usar a probabilidade para prevenção de crimes graves. Wheelan conclui que todas as ferramentas disponíveis (não somente tecnológicas) devem ser utilizadas para não existir o que ele chama de “discriminação estatística”.
Wheelan também cita um caso, comparativo ao filme, mas que não é ficção. No New York Times, 2011, saiu uma notícia sobre policiais que foram enviados para uma região de NY com alta probabilidade de crimes. Eles prenderam pessoas com mandados de prisão e outros ilícitos. Não se tratava puramente de uma ação “pré-crime”, mas de se usar a estatística a favor do combate ao crime.
Lembram do filme Tropa de Elite, de 2007, quando o aspirante Matias fazia a mancha criminal? Basicamente, era um sistema onde o policial verificava os locais com maior incidência de crimes e posicionava suas viaturas lá para evitá-los.
Contudo, os números não favorecem ações impensadas, como no filme estrelado por Tom Cruise, onde o crime era previsto e os suspeitos presos. A tecnologia deve ser combinada com ferramentas sociais, de modo que sejam analisados outros aspectos, ou seja, previsões e números, por si só, não garantem algo.
Lição 2 – Alguns riscos são impossíveis de mensurar
Segundo Wheelan (2016), os maiores riscos nunca são aqueles que você pode ver e mensurar, mas aqueles que você não pode ver, portanto, jamais poderá mensurar. Alguns, parecem tão distantes que você não consegue nem imaginar que possam acontecer na sua vida.
John Anderton confiava cegamente no sistema pré-crime, não tinha motivo nenhum para desconfiar. Até o dia em que se viu como um suspeito.
O que acontece é que, principalmente no meio empresarial, por mais que analisemos riscos, tenhamos quantidades enormes de dados e sistemas complexos de avaliação de riscos e previsões, trabalhamos para prever aquilo que imaginamos. A verdade é que, como no caso de John, algumas coisas para nós são impensáveis!
No 11 de setembro, uma empresa ficava em uma das torres gêmeas e guardava os backups dos seus sistemas na outra, pois não passava pela cabeça de ninguém a destruição das duas torres. Era algo tão distante, tão longe da imaginação de qualquer analista de risco, que era impossível de se prever.
Lição 3 – Exatidão não existe em previsões
Mesmo os precogs não eram unânimes em algumas de suas previsões, o que fez o agente John Anderton começar a questionar a metodologia de resolução de crimes.
O que ocorre é que mesmo em ferramentas estatísticas, de previsão, alguns algoritmos nos fornecem resultados com margens de erros. Isso precisa ser considerado para entender que se uma previsão é exata, ela está errada!
Lição 4 – Seres humanos são a peça fundamental nos sistemas
Uma das coisas que ficam claras no filme é que os precogs fazem parte de um sistema. São a parte fundamental dele. Em um trecho, mesmo com toda a tecnologia envolvida, quando um dos precogs (Aghata) foge com o personagem interpretado por Tom Cruise, o sistema para de funcionar, pois os outros precisam do terceiro elemento (Aghata), em virtude do modo em como funcionavam.
Isso pode ser interpretado como uma mensagem da importância do trabalho em equipe em um sistema complexo. Pessoas, tecnologias e processos precisam estar sempre em harmonia.
Para a utilização de dados na tomada de decisão, é necessária a cognição humana, pois, por mais avançada que seja uma tecnologia, só o analista responsável saberá a “dor” de acertar ou errar em uma decisão e consequentemente dos seus efeitos colaterais.
Em alguns mercados, uma empresa pode estrategicamente desacelerar as vendas, em virtude de um plano, de algo previsto dentro do seu mercado, enquanto seu algoritmo de inteligência está trabalhando unicamente para vender mais. Na aviação existem casos conhecidos, onde a utilização da previsão de ocorrências evitou acidentes, mas, mesmo assim, quem tomava a decisão final era um ser humano.
Conclusões
O filme aborda questões sociais, filosóficas e o impacto da tecnologia usada para previsões combinada com seres humanos excepcionais. O que ocorre é que, como seres humanos, nós fazemos previsões sobre o que pode acontecer, ensaiamos probabilidades a todo momento, através de cálculos silenciosos em nossos cérebros. São resultados de uma análise de nossa experiência, que nos ajudam a prever e manipular o futuro.
A mensagem principal, é que as máquinas podem nos ajudar com sua tecnologia, mas que nós sofremos com os impactos de nossas decisões, afinal, embora existam ferramentas de previsão e probabilidade, o futuro não está escrito e cabe a nós, através de nossas decisões, determinar nosso destino e daquilo que controlamos.