“Paulo fazia a análise do número de usuários no site de um cliente. Ao analisar a comparação entre o primeiro semestre do ano e o período homólogo, percebeu que um dos agrupamentos de canais apresentou queda no número de acessos, o que o deixou preocupado. Ele considerou algumas hipóteses, como a deterioração do conteúdo do site, problemas técnicos, entre outras, e enviou tudo para um colega seu. Paulo ficou surpreso ao receber a análise do colega, como resposta, e perceber que, apesar de aquele canal ter apresentado queda no número de visitantes, outro apresentou um crescimento significativo, sobretudo em termos de novos usuários.”
Já passei por uma situação parecida e ando refletindo muito sobre o aprofundamento na análise dos números. O que eu percebo em nossa sociedade, hoje, é que, como toda a informação está muito próxima de todos, as pessoas não acabam se aprofundando em temas e análises importantes. É como se a simples consulta ao Google ou ao ChatGPT resolvesse tudo. Isso é perceptível quando se tratam de números também.
Principalmente em grandes empresas, atendendo muitos clientes, acabamos por entrar em processos e métodos resultantes em um desvio da atenção para itens importantes. Por exemplo: se o método de análise é passar pelos menus do Google Analytics A, B e C, somente. Até pela correria do dia a dia, o especialista acaba não se aprofundando na análise. É sobre isso que me refiro. Acabamos ficando tão automáticos em algumas tarefas, que às vezes não notamos coisas que estão lá na nossa frente.
Refletindo sobre isso, elaborei uma lista com cinco recomendações para que seja possível ao analista se aprofundar mais em suas pesquisas.
1. Entenda o negócio, saia de trás das máquinas para aprofundar as análises
É isso o que falta às vezes. Certa vez eu estava trabalhando em um projeto de SEO e tinha dificuldade para entender algumas particularidades do negócio. Analisava o site, números, métricas importantes, encontrava problemas e provia soluções. Após ser convidado e visitar a loja, conversar com o patrocinador do projeto, funcionários e até consumidores, tive outra visão de tudo.
Olhar para os dados logicamente é importante, mas tente ir além. Para alguns nichos existem relatórios de mercado que podem entregar mais informações. No caso do e-commerce, por exemplo, eu gosto muito do Webshoppers, mas com certeza existem associações de classe que fazem boas pesquisas e estudos que podem ajudar muito a entender os desafios daquele setor.
“Leia fóruns e realize pesquisas ou consulte consultores para entender o que fica em seu caminho. Use também quaisquer comentários de usuários ou clientes que conseguir”.
(DUARTE, 2022, p.226)
Sempre que possível, eu leio esses estudos de mercado e guardo eles para utilização, a fim de comparar dados do cliente com os do mercado. Isso dá uma boa visão à organização, se ela está ou não acompanhando as tendências daquele setor.
2. Desenvolva pensamento crítico e questionador
O pensamento crítico é fundamental para ir além dos números e interpretar os dados de forma mais ampla. Isso envolve questionar suposições, identificar possíveis vieses, considerar múltiplas perspectivas. Procure conexões entre diferentes conjuntos de informações, faça perguntas, crie hipóteses, escreva tudo em algum lugar e volte ao problema depois de um tempo.
Em alguns casos, as respostas não são imediatas, sendo necessário “dar um tempo” e retornar posteriormente. Faço muito isso e, com frequência, estou fazendo algo totalmente aleatório, e a solução aparece na minha mente!
3. Aprofunde-se nas fontes de dados
Além de examinar os números, é crucial compreender as fontes de informação que estão sendo utilizadas. Isso significa compreender como os dados são coletados, processados e armazenados e suas limitações.
O que eu quero dizer com isso? Que, às vezes, é preciso entender os problemas que envolvem a captação e modelos de atribuição, dentre outros detalhes, que podem fazer toda a diferença na análise.
Certa vez um cliente olhava para alguns dados de receita faturada em seu sistema de vendas e eu examinava os números baseados na receita captada (ainda não faturada). Havia divergências, pois os números não iriam “bater”. Havia uma quebra, afinal, muitos pedidos feitos, às vezes por falta de pagamento, fraude, etc, acabavam não sendo pagos. Entenda que pode ser necessária a explicação ao cliente, bem como análise de prós e contras das metodologias utilizadas e de determinados indicadores.
Além disso, as fontes de dados podem ter informações importantes que o profissional acaba por ignorar, em virtude do vício de buscar só aquilo que é corriqueiro. Isso é um problema, pois você limita, e muito, a sua análise, como comentei no início do artigo.
4. Incorporar análises qualitativas
Embora os números tragam explicações exatas sobre os fatos, nem sempre a análise fria mostra a realidade de um negócio. Por isso, como eu disse anteriormente, é importante sair de trás das máquinas.
Os dados lhe dizem o que aconteceu no passado, mas nem sempre lhe dizem o porquê, a menos que você fale com os heróis que geram os dados ou com seus adversários.
(DUARTE, 2022, p.225)
As melhores informações que coletei vieram através de, pesquisas, entrevistas, feedback de clientes, colegas e outras fontes de dados qualitativos. Essas informações podem fornecer percepções valiosas e ajudar a entender os motivos por trás dos números.
Em alguns casos, ao analisar uma planilha financeira contendo números empresariais, você pode se surpreender com os custos e a baixa taxa de lucro. Mas quando vai conversar com as pessoas, percebe que isso é comum naquele mercado.
5. Colaborar com outras áreas da empresa
Busque parcerias e colaborações com profissionais de diferentes áreas da empresa. Ao trabalhar com especialistas em marketing, vendas, operações ou outras áreas, você pode obter percepções valiosas que vão além dos números. Essa colaboração pode ajudar a enriquecer a análise de BI, trazendo diferentes perspectivas e conhecimentos específicos do negócio.
Eu sempre fui muito feliz ao conversar com outros profissionais para obter outra perspectiva de dados e até receber outras fontes. Me lembro que muitas vezes eu mudei interpretações de análises com base em conversas com outros profissionais. Os dados são fatos, mas o olhar para eles é como estar em um museu olhando para uma obra de arte.
A lição que fica aqui é, vá sempre além do processo, busque ser criativo, inclua sua equipe na análise e entenda que por mais que os dados tragam fatos, o que dará o real significado à sua análise e uma boa tomada de decisões é a sua interpretação. Muitas vezes, interpretar é mais do que ler as informações; é questionar, saber o motivo e gerar hipóteses, antes de propor uma solução.
Referência bibliográfica
DUARTE, N. Data story : Explique dados e inspire ações por meio de histórias. Alta Books; 1ª edição (1 janeiro 2022)